amor que nunca existiu

06/02/2012


O título “Amores Imaginários” (Canadá/2010) já descreve muito bem o filme. Muita cor, câmera lenta, nostalgia e movimentos sutis marcam a história. Francis (Xavier Dolan, diretor do filme) e Marie (Monia Chokri) são muito amigos.. até Nicolas (Niels Schneider) chegar em Montreal.

Nicolas tem todo um charme, além de ser carismático e carinhoso com os dois. Logo, várias fantasias são criadas por Francis e Marie. Cada gesto do “novato” simboliza alguma possibilidade, um jogo de sedução. E um triângulo amoroso – que nunca existiu – é formado.

O casal de amigos é inseguro, fechado, carente. Assim, a aposta em um grande amor é uma boa oportunidade para escapar da monotonia. E é aí que o personagem de Nicolas se encaixa de forma perfeita. Acostumado a ser o centro das atenções, ele não parece se importar com nada, vive com muita liberdade e poucos vínculos. E são essas características que atraem Francis e Marie,  que passam a disputá-lo – sem assumir – e deixam um “amor imaginário” atrapalhar uma antiga amizade.

Mas, no final das contas, Nicolas se desfaz dos laços com o casal de amigos – como era esperado. E com o tempo, Francis e Marie relembram dos bons momentos que costumavam dividir. Um pouco de trilha sonora: há a versão italiana para Bang Bang, usada por Tarantino em Kill Bill;  a dançante “Pass This On”, do grupo sueco The Knife; e também a solitária “Keep The Streets Empty For Me”, do Fever Ray.

Crítica? Há quem detone “Amores imaginários” e há quem elogie.  É bom assistir e tirar as próprias conclusões, sempre.  Eu, particularmente, gostei. Não é o meu filme preferido, ou algo parecido. Mas gostei da trilha, dos filtros, dos “universos imaginários” dos personagens.

Há clichês? Sim. Os atores são inspirados em personagens “clássicos”, como Audrey Hepburn e James Dean, por exemplo. Mas, para mim, isso não fragilizou a história, não a deixou sem personalidade. Vejo como uma comparação proposital e bem articulada.


o delicado “medianeras”

01/02/2012

Com a linda e esperançosa música de trilha sonora “True Love Will Find You in the End, o filme argentino “Medianeras”, de Gustavo Taretto, retrata a solidão, de forma delicada, nas grandes cidades. Buenos Aires é o pano de fundo dessa história – mas poderia ser qualquer outra metrópole.

São dois jovens solitários, vizinhos de prédio, mas que não se conhecem.  Eles contam suas próprias histórias de forma criativa, irônica e bem humorada, apesar de toda a tristeza que sentem por se sentirem só.

O único companheiro de Martin é um cachorro, deixado por sua ex-namorada, que o abandonou para levar uma nova vida nos Estados Unidos. Ele é depressivo, vive trancado em casa e a internet, com os jogos e os chats virtuais, é praticamente o único momento de distração de Martin. Já Mariana, tenta reconstruir sua vida sozinha, depois de passar cinco anos com alguém que ela descobriu que não a completava e que ela, na verdade, não conhecia direito.

Existem cenas em “Medianeras” que transformam o filme. Apesar de tratar de um tema triste, o longa me fez sorrir muitas vezes. E a criatividade do diretor me surpreendeu. Não vou contar detalhes dessas cenas aqui, pois sei que perde a graça.

A arquitetura também é ponto crucial do filme. Até porque solidão, grandes cidades, construções são assuntos que se complementam e estão presentes no DNA das metrópoles. A própria palavra “medianeras”, título filme, é a parte lateral dos prédios (que não tem janelas), símbolo da distância entre os personagens.

E Martin e Mariana –que torcemos para que se encontrem desde o início do filme – só vão poder se conhecer quando “quebrarem” a barreira das “medianeras” e de seus obstáculos pessoais. Essa parte, inclusive, é uma daquelas que eu disse que surpreendem e deixam sorriso no rosto. E para terminar a história, o diretor nos brinda com a também linda e também esperançosa “Ain’t no Mountain High Enough” de Marvin Gaye. Só poderia  resultar em coisa boa.